março 25, 2012

Il Mare Review

"Espero que esteja pronta para ouvir uma longa e mágica história. Está pronta para acreditar em mim?" (이제부터 긴 이야기를 시작할텐데 믿어줄 수 있어요?) 
Han Sung Hyun 

A humanidade sempre foi fascinada pelo tempo, no sentido de como manipulá-lo. Talvez essa não seja a real intenção deste filme, mas ele de alguma forma toca no assunto. Mas em primeiro lugar o que precisamos entender a respeito de Il Mare é que ele não está nem aí para explicar coisa alguma sobre as leis da física ou da racionalidade, dirá ainda as questões metafísicas.

É bem verdade que este filme fala sobre viajar no tempo de um modo bem particular, mas o que importa mesmo é o romance, ou melhor, os momentos de solidão dos protagonistas e depois sim, o romance.

Tudo começa com uma caixa de correio e um cartão de Natal. Kim Eun Ju (Jeon Ji Hyun) está se mudando da belíssima – do-tipo-que-se-eu-algum-dia-ganhar-na-loteria/der-o-golpe-do-baú/assaltar-um-banco-vou-comprar-uma – casa à beira-mar que é conhecida como Il Mare, do italiano, o Mar. Bem apropriado. Na caixa de correio em frente a casa (outro objeto que eu amei nesse filme) ela deixa um cartão de Natal para o novo proprietário pedindo que ele por favor lhe envie sua correspondência para o novo endereço quando chegar. A data no cartão é de dezembro de 1999.


Quando o outro morador de Il Mare, Han Sung Hyun (Lee Jung Jae), acha o cartão, sua reação não é muito simpática, por vários motivos. 1 – Ele é o primeiro morador da casa (foi até desenhada por seu pai, um famoso arquiteto); 2 – Não há marca alguma na entrada da casa (detalhe que ela comenta e diz que não foi sua culpa) e 3 – Ela escreveu a data errada, pois é dezembro de 1997 não 99.


Assim começa a correspondência entre os dois, primeiramente com um tentado provar que é 1997 e o outro que é 1999 – depois 1998 e 2000 respectivamente já que o filme se passa na época da virada do ano. Aos poucos e com a ajuda de vários comentários certeiros demais para ser simples coincidência eles acabam acreditando um no outro e vão mantendo contato, chegando a óbvia conclusão de que o portal entre os anos é a caixa de correio vermelha.

Em algum momento eles finalmente decidem se encontrar no futuro (de ambos) – ano 2000 pra você que já se perdeu, mas infelizmente Sung Hyun não aparece no encontro. Deste ponto em diante o filme concentra-se em brincar com as emoções, ambas dos protagonistas e do público, ao tentar desvendar porque Sung Hyun não apareceu e se eles poderão um dia se encontrar.

Alguém por aí deve ter pensado, “hei, eu já vi esse filme” e pensou em A Casa do Lago (The Lake House) que é de fato a versão Hollywoodiana deste filme sul-coreano, mas vamos deixar as comparações para outro post. Como dito antes, o que importa mesmo é Sung Hyun e Eun Ju. E muito embora eu faça ressalvas quanto à atuação de Jeon Ji Hyun em geral, ela se encaixa bem no papel de uma mulher que vive os altos e baixos do fim de um relacionamento e nas cenas em que aparece sozinha em seu apartamento, oras levando a vida como deve ser e outras desejando que pudesse voltar no tempo.


Lee Jung Jae é realmente um primor. Ele consegue ir de cenas de extrema solidão e amargura (pelo relacionamento difícil que tem com o pai – assunto que é mostrado na medida certa) à outras que delicadamente nos mostram como ele vai se apaixonando. Lee como Sung Hyun é tão encantador que depois de um tempo você acredita que ele é assim mesmo.


Mas não é só de atuação que Il Mare se faz belo. Os cenários e a iluminação são praticamente entidades. Há um jogo de sombras e fumaça muito forte contra uma luminosidade dourada durante o filme que vai determinando as sensações das cenas com a sutileza que é típica da cinematografia sul-coreana.


Minutos inteiros no qual acompanhamos a solidão dos personagens comparada com a amplitude do lugar onde moram. É bem verdade que a escassez de diálogos nos filmes dos nosso amigos orientais é comum, no entanto, neste filme em especial, o silêncio se transforma em um símbolo maior - a definição visual do que essas pessoas são feitas. E como elas encaram a vida.



Essa análise torna-se ainda mais interessante quando pensamos no emprego dessas pessoas. Eun Ju é uma dubladora, ganha vida com a voz, mas dificilmente a usa fora do ambiente de trabalho. Sung Hyun é arquiteto, está acostumado a se expressar através de imagens. Ou seja, ambas as personagens tem um lado seu silencioso e até quando eles se falam, nenhuma palavra é dita, tudo se escreve.
 
O que posso dizer verdadeiramente a respeito deste filme é que ele é encantador; visualmente e emocionalmente. Tocante e com um compasso lento, mas que não irrita, se você realmente entrar no clima. E se faz de seu nome, o Mar. Il Mare, a casa, é uma presença que emana e representa a melancólica existência de Sung Hyun e Eun Ju, seus moradores, que se refugiam numa caixa de metal longe de tudo e de todos. Il Mare, o mar, é uma metáfora completa para o inesperado que a maré pode trazer ou levar, nesse caso, os anos que os separam e ainda sim os unem. E por fim, Il Mare, o título e filme, cujo nome original 시월애 - Siworae (lê-se shiuôré) que significa “o amor que transcende o tempo” é de fato a melhor explicação para um filme cuja premissa é o tempo de dois anos, tanto para o passado quanto para o futuro, que separa duas pessoas, mas que não é capaz de diminuir o amor que acabam sentindo um pelo outro.

A única coisa que talvez não tenha feito sentido é o fato de ninguém ter perguntando pelo número da loteria.

com 1 - 3 - 9 - 13 - 18 - 26 vou ganhar a Mega Sena da virada?

TRILHA SONORA

O tom melancólico é dosado na medida certa pelo uso da deliciosa trilha sonora, que combina instrumentais de ritmos contagiantes, pequenos diálogos e o toque clássico do que poderia ser uma sinfonia – detalhe que sempre me surpreende a respeito dos nossos amigos asiáticos; esses têm o dom para a criação de faixas instrumentais que nunca parecem estar no lugar errado.

Kim Hyun Chul conseguiu injetar os elementos essenciais do filme nas canções. Além da melancolia e a escolha de um compasso para as músicas que contém vocais, a influência do jazz se espalhou pelas faixas instrumentais e elevaram o tom elegante e vibrante de algumas cenas.

REFERÊNCIA CRUZADA

O título original é na verdade a pronúncia dos caracteres chineses 時越愛 que traduzidos querem dizer "o amor que transcende o tempo".  Existe diversos casos de palavras chinesas que quando não são usadas no original, recebem adaptação fonológica e passam a ser escritas em hangul (caracteres coreanos). É como se começássemos a usar uma palavra em inglês no nosso dia-a-dia só que ao invés de escrevê-la como ela é, passaríamos a escrever o modo como falaríamos a palavra. Ex.: ao invés de escrever notebook, escreveríamos 'nótibúqui'.

É ainda muito comum essa relação entre a cultura chinesa e a coreana e ela descende desde os tempos no qual a península foi ocupada pelas antigas dinastias chinesas. Em alguns lugares na Coréia é possível encontrar hanjas escritos em locais públicos, como banheiros, por exemplo. O alfabeto coreano por sinal bebe da filosofia do Confucionismo, ou (segundo alguns) Neo-Confucionismo. Os caracteres que dividem-se em riscos horizontais e verticais, assim o são por fazerem a representação do homem, da terra e do céu, elementos confucionistas (yin, yang).

PÔSTERES

Pôster cinematográfico



JÚRI FINAL

- Nota: tipo canção da Adele - o enredo é lindo, te envolve, chamusca o coração e de repente estás chorando.
- Soundtrack: jazz e soul ao mesmo tempo. E se Must Say Goodbye (faixa 2) não cativar seu coração nem um pouquinho é porque deve ter virado pedra.
*P.S.: Aonde se compra uma caixa de correio que vem com bonitão de brinde?

BANCO DE DADOS

*Título Original: 시월애
*Ano: 2000
*Estilo: fantasia, romance, drama
*Direção: Lee Hyun Seung
*Estúdio: Sidus Pictures 
*Oficial: no HanCinema

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