setembro 30, 2012

Cheias de Charme: Impressões Finais

Agora que a reprise do último capítulo já foi ao ar, vamos pensar um pouquinho sobre tudo o que aconteceu nesses cinco meses. E talvez a melhor forma de definir o que Cheias de Charme fez de interessante na TV foi ser uma história ficcional com tons de conto de fadas, mas que no fim tinha os pés bem firmes no chão. Quer dizer, tem como ser mais Gata Borralheira hoje, Cinderela amanhã do que “dia de empreguete, véspera de madame”?

E com esse lema conhecemos nossas empreguetes – verdadeiras Marias do Brasil. Maria Aparecida (ou Cida), arrumadeira, romântica, doce e inocente. Maria do Rosário, que trabalhava como cozinheira, mas seu maior sonho era ser cantora. Maria da Penha, doméstica, batalhadora, multi-uso e eternamente devotada a sua família.

Isabelle Drummond, Leandra Leal e Taís Araújo eram nossas mocinhas e dividiram entre si a responsabilidade de defenderem uma das funções mais importantes desse país, mas que nem sempre recebe o devido respeito. O emprego doméstico foi a base sólida na qual foi criado uma história divertida, como manda o figurino de uma novela global das sete; leve e carismática.


Aliás, carisma é provavelmente o segundo nome de Cheias de Charme. Se seguirmos a trajetória da novela, perceberemos isto claramente. Com um enredo onde três domésticas que após fazerem um vídeo satirizando suas patroas, se tornam estrelas da música depois que esse mesmo vídeo se torna sensação na internet e muda drasticamente a vida de suas protagonistas, tudo graças ao carisma e a graça de uma brincadeira que virou coisa séria.


O trio que elas formam, As Empreguetes, de tão bem produzido conseguiu ultrapassar os limites da ficção e hoje tem suas canções entre as mais executadas pelas rádios de todo país.

Mas como não se conta uma história só com mocinhos, lembremo-nos dos nossos bandidos. Depois que a novela começa a mergulhar suas protagonistas, de fato, no mundo musical, vamos junto com elas para os bastidores das celebridades.

E aqui reina absolutamente deslumbrante feito "um poço de luxúria", Juciléia, em arte Chayene, interpretada magistralmente por Cláudia Abreu. Chayene é uma cantora de eletro-forró megalomaníaca que se sente diretamente atacada pelo sucesso que o trio começa a fazer, ainda mais por duas das empreguetes já terem trabalhado para a cantora e passado por maus bocados com as loucuras da ex-patroa.

Ela pode até nem ser considerada vilã, embora antagonize as Marias do inicio ao fim. Chayene é na verdade uma dessas pessoas cuja fama subiu a cabeça e faz todo o tipo de loucura para conseguir o que quer. Seja destruir a carreira de seus inimigos, criar namoros midiáticos ou abusar da sorte que tem. O que pelo menos não se pode negar da personagem é que seu jeito exuberante e sua personalidade terrível haverão de não nos deixar esquecer a Deusa Brabuleta tão cedo. E se isso chegar a acontecer, penseeee numa mulher braba!

*Por sinal, eu só sei cantar a parte do “voa, voa, voa, voa brabuleta”, para desespero de quem tem que me ouvir o dia todo. 

E dentro desse universo musical vivemos os maiores absurdos que já se contou sobre a fama. O cantor Fabian (Ricardo Tozzi) e o empresário Tom Bastos (Bruno Mazzeo) nos ensinaram que não existe propaganda negativa se você souber como transformá-la em positiva. Muito embora eu deva fazer ressalvas aos exageros de Fabian, que apesar de ter sido escrito nesse formato poderia ter conseguido ser bem menos forçado tivesse um ator mais experiente sido escalado para o papel.

E não, não estou negando o potencial cômico de Tozzi. Está selado para sempre na minha memória a frase “aê Bibi, eu também tenho sentimentos”. Mas em certos momentos eu cheguei a me contorcer nas cenas em que o rapaz passou longe do tom, se bem que esses momentos foram mais frequentes quando Tozzi estava na pele de Inácio, o traumatizado caladão e misterioso par romântico de Rosário.

Por sinal a trama que envolvia Inácio (e por extensão Fabian) foi uma das coisas mais WTF - do tipo ruim - que além de sem pé, nem cabeça, era totalmente ridícula, até mesmo para uma novela que volta e meia dava uma pirada total. Desnecessário.

Mas voltando para as coisas boas, além de charme, a novela estava cheia de boas atuações de seus coadjuvantes. Tato Gabus Mendes; Daniel Dantas, Marcos Palmeira, Aracy Balabanian, Titina Medeiros, Chandelly Braz, entre outros, conseguiram transitar pela novela sem passar despercebidos, por vezes ganhando as melhores cenas do capítulo. Posso dizer o quanto amava aquelas cenas do papito Sidney dançando e relembrando seu falecido amor (cameo de Guilherme Winter)? Ele era a coisa mais fofa!

O toque de romantismo ficou mais a cargo de duas das três Marias. Penha apesar de ter sido balançada por Otto Werneck (Leopoldo Pacheco) e Gilson (Marcos Pasquim), nunca deixou de amar Sandro (Marcos Palmeira). E mesmo que o romance de Rosário e Inácio tenha conquistado a vaga de "amor que vence barreiras", o romance que mais me senti investida foi o triângulo de Cida, Elano (Humberto Carrão) e Conrado (Jonatas Faro).

Primeiro esperando para ver o que aconteceria quando Conrado descobrisse que Cida era arrumadeira e não uma burguesinha. Depois querendo que Elano tomasse coragem e se declarasse para a garota. E em seguida meio que desejando que Conrado mudasse e voltasse para a moça, meio que querendo que Elano voltasse. E depois querendo que Elano largasse aquela loira sem sal.

Mas eu nem deveria ter me preocupado tanto com isso. A própria novela já tinha nos avisado desde o primeiro capitulo que o verdadeiro Príncipe Encantado da nossa Cinderela empreguete era mesmo o jovem advogado, que foi amor ao primeiro beijo. Para Cida à segunda beijoca. Lembram?


E falando em Cida, porque raios nunca a ouvimos cantar sua música tema, quando claramente ouvimos a vozinha inconfundível de Drummond toda vez que ela tinha alguma cena com um dos seus pretendentes? Ok, vou fingir que não sei quem vivia cantarolando ao fundo “foi só piscar o olho, e eu me apaixonei”.

Ou por acaso, não era ela? Vou me espantar se não for.

Agora avaliando seriamente os finalmente, a novela perdeu um pouco o fôlego depois que As Empreguetes se separaram e cada uma foi para o seu canto, e em cada canto era um lenga-lenga dos diabos. “Quando a Rosário vai descobrir que esse é o Inácio e não o Fabian? Quando é que a Cida vai perceber que o Conrado e o Sarmento não valem nada e ela deveria ir logo procurar Elano? Quando Penha vai parar de tentar esquecer Sandro?”. Definitivamente se não fosse por Chayene e companhia, eu teria desligado a TV diversas vezes.

E como aqui nós elogiamos quem merece; uma salva de palmas para Filipe Miguez e Izabel de Oliveira que escreveram uma história redondinha (esquecendo a parte Inácio-WTF) que sempre foi uma delicia de assistir e que apesar de apresentar tudo o que já esperávamos em certos pontos do enredo, conseguiu que ansiássemos por esses momentos.


Adorei quando os dois apareceram na parte final do capitulo final, quando tivemos um clipe com o elenco e a produção reunidos no palco no qual a novela se encerrou com mais um show dos cantores da ficção, dessa vez mandando ver no tema de abertura, Ex Mai Love, que prova novamente que o estado do Pará está em alta, já que a canção é interpretada pelo vozeirão de Gaby Amarantos.


A boa parceria dos dois autores pode ser estendida para as três atrizes centrais, sempre em sintonia, e porque não para suas personagens, que provaram que uma amizade verdadeira também tem direito a ser protagonista de vez em quando, pois não sei se alguém mais percebeu, o relacionamento chave dessa novela não estava nas combinações românticas das protagonistas com seus respectivos pares românticos, como estamos acostumados a ver, mas sim na ligação entre essas três Marias sonhadoras, três empreguetes, mas acima de tudo três amigas.


E contrário ao que diz o verso da música essa amizade vale bem mais do que 1, 99. 

Cheias de Charme foi ao ar pela Rede Globo e será substituída nessa segunda-feira pelo remake de Guerra dos Sexos.

Imagens: Rede Globo/Cheias de Charme

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