novembro 17, 2012

S-Diary Review

Não sei que classe de amor me encontrará... ou deixará... mas acho que serei capaz de guardar boas recordações dele
Jin Hee

Rapazes, atenção, este post fala da nação masculina, mas definitivamente não é sobre vocês. Dito isto vou divagar sobre coisas que toda mulher gostaria de saber com certeza. Se ela vai conseguir um bom emprego, se vai ser uma (boa) mãe, se o salto belíssimo na vitrine é confortável (definitivamente não) ou se aquele cara realmente gosta dela.

Bem, é disso que trata S-Diary (Romanizado: S Daieori), mas para minha grata surpresa, é apenas pano de fundo para uma pequena reflexão. Falemos então do filme. Antes, porém posso falar dos créditos de abertura?

Ele é lindo. A música instrumental junto à câmera que parece fazer às vezes de uma pessoa que entra pela primeira vez no quarto de alguém e vai aos poucos observando os objetos ao redor, que são na verdade os souvenirs dos relacionamentos passados da personagem Jin Hee (Kim Sun Ah, a eterna Kim Sam Soon). 

A cena inicial mostra Jin Hee no exato momento em que mais um de seus namorados a deixa e ainda a desafia a perguntar a todos os seus ex-namorados se eles realmente gostaram dela. Ouch! Não posso dar um soco nesse cara, mas ele merece. Mesmo sabendo que é uma ideia estúpida Jin Hee acaba lendo seus antigos diários (três ao todo, com direito a ilustração dos ex e tudo), e a medida que avança em páginas, tempo, e memórias de sua vida ela começa a perceber que talvez seu mais-recente-ex não estivesse tão errado. E não pensem vocês que é um absurdo que ela tenha tido apenas três namorados, esse filme, lembrem-se, é sul-coreano.


Jin Hee resolve então encarar o passado, encarando seus ex. Ah garota, você não sabe que o passado tem que ficar no passado?! Jin Hee por fim percebe que foi usada por todos os homens de sua vida e decide pedir uma reparação em espécie (sim, dinheiro) por tudo aquilo que ela fez por eles.

Os três, como era de se esperar, decidem que não vão pagar. Então resta a Jin Hee o plano B, ou devo dizer, plano V. Sim, como diria o título daquele outro filme, V de Vingança. Seja qual for o filme, passamos para o "segundo ato".

Com o primeiro amor, Go Hyeon (Lee Hyun Woo) que virou padre, ela o faz pagar caro com sua ideia de pureza e pecado da carne. O segundo amor, Jeong Seok (Kim Soo Ro) que virou policial e a deixou para casar com uma mulher rica, ela mancha não só sua imagem, mas seu precioso carro. O terceiro amor, Yoo In (Gong Yoo), cujo afeto e real carinho ele sempre deu para o cachorro, ela faz com que ele aprenda como alguém se sente ao perder o que mais valoriza.

No fim das contas, os três acabam pagando o que devem a Jin Hee e nós espectadores assistimos o final do "segundo ato". Até este ponto S-Diary fez seu dever de casa em matéria de comédia romântica; nos deu cenas fofas, hilárias, criativas e inusitadas. No meu caso me fez soltar "ownn"s e “pfttt”s e rir, rir, rir. Então de repente estamos em outro filme. Aliás, descobrimos que esse filme não é de vingança (claro, cadê o cara mascarado?), e não é sobre ex-namorados cretinos. É sobre ser mulher, independente do seu emprego, dos seus filhos, do quão bonita você fica com maquiagem ou de como foram seus relacionamentos.

Estamos acostumados a encontrar o mesmo tipo de heroína nas comédias românticas, aquelas que relutam o filme inteiro, mas que no fundo apenas estão esperando os últimos vinte minutos, às vezes cinco, para ficar com seu Príncipe Encantado. S-Diary faz o oposto. E assim chegamos ao "terceiro ato". Ele oferece diversas opções do "cara ideal" para Jin Hee, e junto com ela aprendemos que esse cara não existe e mulher alguma deveria se sentir incompleta porque sua vida amorosa não é perfeita.



Ela é incompleta porque procuramos as peças no lugar errado e Jin Hee, mas do que ninguém explica isto: 
“Estava ocupada porque tinha que encontrar algo. O que estava tentado encontrar era a mim mesma. Até agora, só havia tentado que gostassem de mim, ser o que queriam de mim. Sem sequer saber o que eu mesma queria de mim.”
Você tem empatia pelas situações e as pessoas, porque o elenco também é ótimo. Lee Hyun Woo (Dal Ja’s Spring), Kim Soo Ro e Gong Yoo (Coffee Prince) parecem confortáveis e satisfeitos com suas interpretações e deveriam, pois a fazem bem, embora Kim seja um pouco caricato demais para o meu gosto.


Mas como eu já havia dito, esse filme fala mesmo é sobre as mulheres e quem melhor então do que Kim Sun Ah, para brilhar num papel que pede cuidados para não transformar nossa heroína numa completa fracassada. Sun Ah tem a habilidade de se fundir em seus personagens de tal modo que não se consegue questioná-los por muito tempo, acabamos nos envolvendo com eles e os adorando por isso mesmo.

A trilha é muito gostosa, mas passa um pouco despercebida. O filme peca, no entanto, ao fazer três filmes em um só ao invés de um filme com três temáticas relacionadas (drama, comédia e romance), o que pode deixar algumas pessoas um tanto perdidas, afinal, fazer uma curva fechada de quinta (marcha) é coisa pra profissional, ou suicida. E se não fosse pela hilaridade, bons coadjuvantes e Kim Sun Ah, é bem possível que S-Diary tivesse perdido o controle e capotado no meio do caminho.

REFERÊNCIA CRUZADA

Durante suas "aulas particulares" com Go Hyeon, Jin Hee estudava um poema de Edgar Allan Poe. O tema da morte de uma jovem mulher é recorrente nos trabalhos de Poe e foi diversas vezes ligada as perdas precoces de mulheres em sua vida, como sua mãe biológica, a mãe adotiva e sua esposa, a quem se acredita este poema foi dedicado. Segue aqui a tradução feita por Fernando Pessoa.
Foi há muitos e muitos anos já,
Num reino de ao pé do mar.
Como sabeis todos, vivia lá
Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.

Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor – 
O meu e o dela a amar; 
Um amor que os anjos do céu vieram a ambos nós invejar. 

E foi esta a razão por que, há muitos anos,
Neste reino ao pé do mar,
Um vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;
E o seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino ao pé do mar.

E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar...
Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
Neste reino ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.

Mas o nosso amor era mais que o amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar,
E nem os anjos do céu lá em cima,
Nem demônios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.

Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas nos ares só me lembram olhares 
Da linda que eu soube amar; 
E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulcro ao pé do mar, Ao pé do murmúrio do mar.
Annabel Lee
Edgar Allan Poe

PÔSTERES 

Pôster cinematográfico



 JÚRI FINAL 

- Nota:  tipo Diário antigo - você morre de rir das coisas que fazia, mas percebe o quanto cresceu e fica com uma sensação gostosa no peito. 
- Soundtrack: é uma delicia, mas se funde tão bem nas cenas, que depois de um tempo você nem a percebe mais. 
*P.S.: Seus namoros não dão certo? Desencana, você com certeza está melhor sem eles.
BANCO DE DADOS

*Título Original: S 다이어리
*Ano: 2004
*Estilo: romance, comédia, drama
*Direção: Kwon Jong Kwan
*Estúdio: CJ엔터테인먼트 
*Oficial: no HanCinema

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