dezembro 15, 2012

Videoclipe: Beinah - Clueso

Clueso parece ser um desses artistas que curte um videoclipe. Não só mandar fazê-lo; o rapaz gosta de fazer parte do vídeo, principalmente atuando. E ainda que se possa encontrar semelhanças entre seus diversos trabalhos, ele sempre parece buscar uma leitura diferente da anterior.

Algumas pessoas podem até mesmo contestar isso atirando em mim o clipe de Gewinner e o próprio Beinah, e apesar de ceder às afirmações (sim, eles tem algo em comum), continuo acreditando que são duas coisas distintas. E bota distinto nisso.

Beinah é melodramático em todos os sentidos da palavra e da forma, e aqui, principalmente das cores. Cada quadro expressa mais do que as palavras dão conta; uma lente de aumento para uma história de amor infeliz. E quase todas não o são? 

QUADRO-A-QUADRO

1) Em um cenário escuro formado por um degradé de cinza, Clueso surge. Usando baquetas, ele marca o ritmo da canção e efeitos de sombra, fumaça e terra são inseridos.


2) Segue entrecorte de cenas entre o cantor e objetos de função musical, cujos nomes desconheço.


3) Os cortes então são feitos em forma de transição entre cenas com o cantor, os objetos, e uma mulher. Todos com efeitos de explosão e corte, similares ao que se usou na capa do single que contém essa canção.



4) As imagens de Clueso são montadas a partir de três sequências distintas. Em uma ele aparece com uma camiseta simples, jeans e tênis (ou descalço; não sei afirmar). Em outra ele usa uma espécie de moletom de algodão cru (com capuz). E noutra com uma camisa preta em um fundo que se assemelha a entrada de um galpão.



5) Em determinado momento na cena do galpão, a fumaça passa a ter cores.




6) Os entrecortes entre o cantor e objetos voltam a ocorrer, mas agora os objetos aparecem caindo e ele se desvincilhando, ou se multiplicando.


ELEMENTOS

O que se percebe de cara ao assistir Beinah, é que ele é todo em preto e branco (e as tonalidades de cinza no meio), mas insere cores em algum momento. É sabido que o simbolismo das cores é universal e variam de acordo com a cultura em que são apresentadas, mas seguindo a interpretação ocidental (onde a Alemanha se insere), usar cores opostas, como o preto e o branco, representa o dualismo intrínseco do ser. Essas duas cores, aliás, são constantemente associadas a ideias em oposição ou representam ideias em oposição (o temporal, o intemporal; a fraqueza e a força; etc.).


Similar a interpretação do cinza, o cinzento se vale da ideia do que vem após o fim, após a destruição. A cor em si já foi usada para indicar o luto aliviado e assim como o tom melancólico de ambos, clipe e música, dá uma sensação de tristeza. Para uma representação completa, vamos entender o momento sobre o qual ele escreve na canção como seu tempo gris, ou como diriam os franceses, faire grise mine.

Já quando Clueso se refere à falshen Farben (trad.: cores falsas) como as atitudes premeditadas da mulher com quem se envolveu, temos na fumaça colorida exatamente o que ela fingiu ter/ser.

O vermelho é uma cor cuja simbologia se define através da tonalidade expressa. Aqui temos um tom bem forte, mas não necessariamente escuro (vale lembrar que o clipe está em preto e branco), portanto ela viria trazendo ideias que incitam à ação, forças impulsivas, à beleza, aquilo que brilha – possivelmente o momento em que eles se conheceram; paixão arrebatadora.


O azul é tanto a mais profunda, quanto imaterial e fria das cores, trazendo em si as possibilidades do infinito, do vazio e da pureza. Quando o azul é aplicado a algum objeto, suas formas desaparecem na cor (transparência), por ser imaterial, desmaterializando-o, levando-o ao infinito e adentrado o imaginário. Trazendo para a canção é o momento em que o consciente dá lugar ao inconsciente – o sonho passa a ser a realidade; a voz da canção mergulha fundo na ilusão criada pela mulher pelo qual se apaixonou e nela vai se perdendo.


O verde é um valor médio e funciona nessa dinâmica entre o vermelho e o azul como um mediador, aquele que está entre as duas, mesmo que no videoclipe ele tenha vindo por último. Como cor da natureza e símbolo da tranquilidade, o verde é anúncio do despertar. Esperança, força e longevidade também são seus atributos e explicam claramente que este momento em que o verde é a cor na qual o cantor se envolve ele passa a distanciar-se da influência produzida tanto pelo vermelho quanto pelo azul. Em outras palavras, ele se liberta das mentiras vindas daquela pessoa, quase tendo deixado-se levar pela força de ambas.


Além desses símbolos, uma forma evidente desde o inicio do clipe é o triângulo, que vem por cima das imagens como uma forma completa ou se funde no cenário como parte dele. A forma triangular está associada ao número três (3 cores?) e seu simbolismo, mas também com outras formas geométricas.


Sua primeira identificação está na composição primordial das formas, desde que elas sejam formadas por linhas que partam de um centro e sigam até extremidades. É bem possível que as implicações dessa forma sejam imediatamente associadas com a maçonaria (Clueso é maçom?), mas prefiro não seguir essa linha de pensamento.

Vou interpretá-la como as partes que compõem o todo; todas as linhas que levam até o cerne da questão, que foi se deixar enganar por um amor fingido. Visualmente complementar a isso temos uma cena em que o cantor se joga, cai, e ao passar por uma linha divisória, seu corpo se fragmenta em dezenas de estilhaços que parecem ser triângulos cintilantes, mas não creio que sejam. Dúvida interessante.




Junto a isto temos ainda outras representações vindas das facas, que curiosamente também estão em queda. Não só as facas, mas todos os objetos cortantes representam o principio ativo (masculino) que modifica o passivo (feminino), por isso as ideias complementares de “cortes” venham a ser “rompimento”, “separação”. Muitas dessas representações se associam com o feminino e o masculino, duas oposições, dois complementares e essas mesmas marcas e interpretações podem ser encontradas nos triângulos, na linha de corte, e nas representações de cair.


Por sinal, a queda aqui, é parte do processo de libertação e transformação pelo qual Clueso (ou a voz da canção, melhor dizendo) passa, processo esse instintivo e natural, já que a personagem nele se joga (no ar). Em relação a música, pode representar todas as vezes em que ele quase se deixou ser levado pelas mentiras.



Uma relação mais simples e direta que ocorre entre a letra e as imagens está em cenas onde o cantor corre (foge), se desvencilha de objetos ou nos provoca visualmente a imaginar ruínas, ruir, afastar-se, sair.


Ele faz com que a terra (como elemento mesmo) se espalhe (suba), o pó se levante, caia ou apareça. E fragmentos; pedaços de um todo sejam mostrados. Em um ponto da canção ele diz “Quando jogas, muito se perde (‘destrói’)”. E esse jogo de ‘tudo ou nada’ vem para nós em quase todas as cenas em que as ideias acima foram representadas.




De alguma forma chego a conclusão de que o clipe nada mais é do que uma grande metáfora para os enganos da paixão. Quando se acredita amar alguém veementemente, muitas pessoas são acometidas por sensações, sentimentos e ações que podem não reconhecerem em si mesmas, mas se deixam levar por acreditarem que tudo isso faz parte do que é amar, quando na verdade tudo não passa de uma grande ilusão, uma alegoria falsa do que seria uma obra de arte.

Mas graças a Deus, podemos todos passar por cima disso tudo e deixar o passado para trás.


RESUMO DA ÓPERA

- Definição: Melodramático. E apesar das implicações negativas da palavra, acredito que só veio para somar
- Som/Imagem: Hipnóticas. A tonalidade do clipe ajuda bastante e os efeitos das três cores foi genial. A parte da flor, no entanto, foi um pouco demais.
- Passando na TV: Fico obcecada com as cenas e quando dou por mim, já acabou.
*Posição: 2ª - na lista das músicas que são melhores em videoclipe.

BANCO DE DADOS

*Música: Beinah
*Artista: Clueso
*Direção: Wolf Gresenz  
*Lançamento: outubro, 2011
*Em: An und für Sich
*Estilo: (German) electro pop; rock alternativo, pop rock
*Single

Fonte: Clueso.de; Dicionário de Símbolos 

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