fevereiro 22, 2013

Para Sempre Cinderela Review

Eu me ajoelho a sua frente não como um Príncipe, mas como um homem apaixonado… mas eu me sentiria como um rei se você Danielle de Barbarac, fosse minha esposa” (I kneel before you not as a Prince, but as a man in love… but I would feel like a king if you, Danielle de Barbarac, would be my wife)
Príncipe Henry

Era uma vez uma garota gentil, uma madrasta má, duas meias-irmãs, um Príncipe e um sapatinho de cristal. Oh, certo, e eles viveram felizes para sempre.

Todos já fomos devidamente apresentados à um dos contos de fadas mais amados de todos os tempos, seja através da compilação dos Irmãos Grimm, Perrault, a versão chinesa, a versão Disney® ou mesmo pelo popular nome de Gata Borralheira – todas são Cinderelas. Agora imagine que Cinderela e seu Príncipe realmente existiram. Quem seriam eles? Mais ou menos por aí é que Susannah Grant, Rick Parks e Andy Tennant resolveram criar esta deliciosa releitura.

Literalmente começando com a Rainha da França recebendo os famosos Irmãos Grimm para uma visita, ela decide lhes contar a verdadeira história de Cinderela que vem a ser sua tataravó. Danielle de Barbarac (Drew Barrymore) não imaginava que logo após ganhar uma madrasta, a baronesa Rodmilla De Ghent (Anjelica Huston) e duas meias-irmas, Jacqueline (Melanie Lynskey) e Marguerite (Megan Dodds), perderia a pessoa que mais amava no mundo, seu pai, um gentil homem da nobreza.

Anos mais tarde encontramos Danielle ainda apegada ao pai, passando suas noites relendo o último livro que ele lhe deixara de presente, Utopia. Durante o dia age como uma serva para sua madrasta e meias-irmãs, e tenta proteger as poucas bens materiais que sobraram já que sua madrasta continua a desperdiçar o pouco patrimônio que resta.

Danielle cresce livre e solta, dona de suas próprias ideias e princípios o que acaba por encantar o jovem e inconformado Príncipe Henry (Dougray Scott) que nada mais deseja do que se ver livre de suas obrigações reais, inclusive a parte de ter que se casar com alguém por conveniência. E apesar de estar prometido em um casamento forçado com a herdeira do trono espanhol, todas as jovens da corte desejam que isso não aconteça, inclusive Marguerite, que faz de tudo para chamar a atenção de Henry.

Nossa Cinderela e o príncipe se aproximam cada vez mais, embora ele não tenha a menor ideia de que Danielle não é quem diz ser – Nicolle de Lancret, que é na verdade o nome da mãe da jovem. Para piorar a baronesa descobre o envolvimento dos dois, mente e tenta evitar que ele declare Danielle sua noiva na noite do baile que o Rei prepara em homenagem ao famoso pintor Leonardo Da Vinci (Patrick Godfrey).

Sabe, acho que não haveria forma mais graciosa de agradecer a quem inventou esse conto, do que dar de presente este filme, que apesar de manter a estrutura da narrativa bem próxima das versões conhecidas, toma a liberdade de criar uma fábula moderna (mesmo se passando na França do século XVI) que leva seus personagens além do estereótipo.

Barrymore é doce e integra na medida certa e sua “rudeza” confere a nossa Cinderela aquela faísca de vida necessária para fazê-la sair do papel de coitadinha. O fato de que ela mesma se liberta das mãos do nojento Sr. Le Pieu, depois de ser vendida para ele quase no fim do filme, é certamente um dos melhores motivos para acreditar que Danielle não é só mais uma heroína.


Dougray Scott também supera expectativas ao dar uma faceta cômica ao mimado Príncipe Henry, que apesar do que se imagina, não é só um coadjuvante nessa história, meramente inventado para criar um final feliz para a pobre mocinha sofredora. Danielle é um grande passo na vida de Henry e não o contrário, quando percebemos que é através de seu contato com a jovem que ele passa a perceber que suas responsabilidades como herdeiro também podem ajudá-lo à transformar tudo do seu próprio jeito, começando com seu casamento com uma simples garota caipira (mesmo que ela tenha berço nobre).

Mas ninguém se sobressai mais do que Anjelica Huston e suas expressões esnobes, favorecidas pela estrutura longa e afinada do rosto da atriz. Suas caras e bocas ao tramar planos ambiciosos são impagáveis e seu levantar de sobrancelha outro pequeno ponto a favor. E apesar de estar no papel de madrasta má e certamente tender para o lado podre da banda, ainda é possível simpatizar com a personagem que foi criada para fazer um bom casamento, mesmo que tenha acabado viúva antes mesmo de poder desenvolver algum afeto por seu marido. Quer dizer, eu não desejaria esse tipo de vida para ninguém.


Em contrapartida, as incongruências históricas e os atores tagarelando um sotaque "britânico" em alto e bom som em um cenário declaradamente francês incomoda um pouco, mas não é suficiente para declarar o filme ruim. Ao invés disso nos faz adorar sua tentativa de se parecer o mais possivelmente real, sem jamais perder seu charme de ser um conto de fadas, com direito a fada madrinha pintor de quadro famoso e sapatinho de cristal feito por Salvatore Ferragamo.


Só o que acho muito bizarro é a capacidade que Danielle tem de ficar limpa, arrumada e com o cabelo pronto em tão pouco tempo. Pra alguém que vivia sempre desarrumada, ela bem que aprende depressa.

isso é que é banho de gato.
 
REFERÊNCIA CRUZADA 

Tá aí uma coisa que não falta nesse filme.


- Utopia. De um dos homens mais celebres do Renascimento, Thomas More, o livro fala sobre um lugar desconhecido e puro formado por uma sociedade perfeita, e ajudou a expandir o que hoje se entende da palavra utopia – a ideia da civilização ideal.

Com uma narrativa extensa e uso de muita alegoria e um quê de sátira, More parece tanto querer mostrar o que para ele significaria um Estado ideal como demonstrar o que via da Europa daquele século. Danielle cita algumas partes do livro durante o filme, e é um de seus preferidos.


- Cabeça de Mulher. No original italiano La Scapigliata, ou então “Testa di fanciulla detta la scapigliata”, 1508, é um dos trabalho de Da Vinci de sua época mais madura como pintor, depois de sua obra mais conhecida, a Mona Lisa. Não se sabe muito sobre a mulher pintada, apenas que é um trabalho inacabado e possivelmente encomendado por uma Marquesa para uma coleção privada.

No filme o retrato feito de Barrymore é baseado nesta pintura que não tem semelhança alguma com a atriz, como pode se gabar por aí Scarlett Johansson, mas que se encaixa bem com a ideia tanto do quadro quanto da história de Danielle, um mistério. Teriam essas mulheres existido ou seriam apenas a imaginação de uma cabeça fértil e talentosa?

PÔSTER


JÚRI FINAL 

- Nota: feito filme de Sessão da Tarde, toda vez passa e toda vez dá vontade de assistir.
- Soundtrack: meio escondido, o que interessa mesmo é o final feliz.
 *P.S.: você não precisa de um Príncipe Encantado para tudo nessa vida se souber se defender. Mas se houver um disponível e interessante você pode agarrá-lo sem problema e ainda conseguir um lindo sapatinho.

BANCO DE DADOS

*Título Original: Ever After
*Ano: 1998
*Estilo: romance, comédia, fantasia, adaptação
*Direção: Andy Tennant
*Estúdio: 20th Century Fox
*Oficial: no IMDb

Fonte: Wikipédia [1] e [2]; Leonardoda-vinci.org,

Um comentário:

  1. Que resenha ótima! Gostei como discorreu o filme e os detalhes que o tornam diferentes das outras representações filmográficas desse conto.

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