março 21, 2013

Invisible Things Review

Falar com propriedade sobre a cena musical de um determinado país é sempre complicado e nem sempre dá para ser imparcial. Portanto, é de se esperar que falar sobre a música da Coréia do Sul não fosse ser diferente, mesmo quando o país produz mais canções pop do que Bollywood cria filmes.

A imagem do país é associada imediatamente ao universo k. pop e nada se pode fazer para evitar. Mas o que inúmeras vezes passa despercebido é a quantidade de artistas que vivem a margem desse estilo, mantendo uma carreira mais underground, indie, low-profile, como queiram. E quando digo isto não me refiro ao estilo musical dos artistas (pois temos nesse bolo, hip hop, indie, folk, rock, punk, etc.), mas sim a como o entretenimento coreano lida com eles.

O Loveholic (러브홀릭) é quase um caso a parte. Quando a banda se formou os dois integrantes masculinos (Lee Jae Hak, Kang Hyun Min) já faziam parte do cenário musical. O primeiro trabalho do trio (FLORIST) é um álbum bem feito, tem uma levada pop gostosa e a voz de Jisun, a vocalista, ainda procurava se firmar, vibrando em tons açucarados e etéreos.

Mas é somente aqui em Invisible Things que eles de fato consolidam o que vem a ser o som particular da banda e criam aquela singularidade especial que faz com que ao ligar o rádio (hipoteticamente falando, vocês também escutam rádios coreanas, ok?) em menos de três notas ou algo similar, você saiba, “Ah, isso é Loveholic”.

Quanto aos gatinhos da capa, que por sinal aparecem em todo o material promocional deste álbum, eles foram baseados nos trabalhos da artista Sandy Skoglund, que por sinal são incríveis.

 




Achei instigante a imagem usada, pois nos faz perguntar exatamente o que é invisível; seriam os gatos (em verde ou vermelho fluorescente), tudo com exceção dos gatos, ou apenas as pessoas?

ANÁLISE PARCIAL

1. Magic

Abre o CD com uma Jisun arrastando ligeiramente as palavras como em um ato de lamentação, mas rapidamente acelera o tempo para dar espaço para a batida que vai se aproximando daquele “quê” de pop salpicado em suas músicas. Mas não se engane, Magic anuncia que a banda está diferente, com nuances fortes de rock.

2. Sky
Você pode até não saber do que a letra trata, mas esse tempo da bateria e as espichadas que Jisun faz em algumas partes já denunciam que esta não é uma música feliz. O problema é, quando a tristeza é expressa com muita perfeição, faz com que se pergunte se ela sequer é de verdade. Soa ligeiramente artificial aos meus ouvidos – esse é o lado ruim de uma power ballad. Mas demonstra a competência dos letristas.

3. Want You Here
Aqui Jisun traz de volta os toques etéreos em sua voz, mas o compasso de bateria ao fundo sinaliza os contornos de tons graves que a canção tem, mantendo assim um pé em Invisible Things e outro em FLORIST (o primeiro CD).

4. Blue 923
Tem um tempo bem similar a muita coisa da cena brit (pop) rock dos anos 90, Travis e talvez um pouco de Coldplay, principalmente na guitarra preguiçosa e as extensões de vocal. Tudo ali. Bem casado.

5. Bless You
A quinta faixa já me ganha só porque começa com o som arranhado de cordas de violão. Para piorar a situação é tema de um dos doramas mais interessantes dos últimos tempos (Que Sera, Sera).

A impressionante calma destilada por esta faixa é interessante pelo fato de sua letra falar de um momento no qual a pessoa sente-se perdida em meio a tantos obstáculos, lentamente desacreditando e sofrendo, ao mesmo tempo que declara haver uma luz no fim do túnel com direito a bênção e tudo. Alguns versos são fortes.
빛을 잃어 가고 있나요
((você) está perdendo sua ponta de luz/“seu sopro de esperança”?)

6. Kiss Me, Hold Me
Soa como algum pop europeu adocicado com qualquer toque dançante, o que a promove tranquilamente a concorrer à uma vaga para trilha sonora de novela das 6 (sim na Globo). Aquela que ocupa a parte onde eles mostram o tempo passando. Ok, talvez seja algo melhor em Malhação.

7. 동화처럼
Não precisa nem recomendar; a faixa 7 por si só se identifica como uma inofensiva canção de pop feliz, ansiosa para preencher seu ambiente.

8. Sunglass
Aproveita a faixa anterior para manter o clima gostoso com mais pontes vocais calculadas e refrão pegajoso que dá vontade de cantar junto.
♪ijen peoseobeoryeo neo-e keu saekkaman sunglass
Nunbushin taeyangkwa pureŭn padal hankkeot’ mashyeobwa♫
9. 너는
E finalmente entramos na dimensão das baladas, com teclas de piano fazendo companhia a voz suave de Jisun.

10. Sylvia
Também seguido o ar de “canção de amor sofrida”, Sylvia chega bem mais perto do quesito dramático, com o nome de uma mulher sendo chamado durante a execução e marcação de bateria, aqui bem mais próximo de algo que Muse faria muito bem, se ainda estivermos fazendo comparações.

11. Hyri-rumaya
Tem um pouco de tudo. Lembra pop, mas a levada é mais rock, os vocais sobem, descem, modulam de leve, a batida é fácil, contagiante e por isso mesmo acaba sendo aquela que podia ser melhor, mas não é.

12. Crazy
Kang Hyun Min assume os vocais, embora filtrado demais, deixando a canção que já tem bastante difusão na guitarra, ainda mais enfeitada, o que não a torna ruim, apenas um pouco demais. Não indicaria muitas repetições ou pode incorrer de se acabar odiando-a.

13. My Dear...
Cordas, cordas e cordas e eis que a bossa nova se anuncia. Orientada com o ritmo próprio de nossa terrinha, a canção usa e abusa de segunda voz, segue com uma levada gostosa e aconchegante que se mais rápida poderia ter chegado perto das vibes felizes da música surf.

--
Como puderam ver, o álbum vai feito montanha russa, com altos e baixos e sequências de giro similares, produzindo um passeio agradável e divertido em sua maior parte, mesmo que o estilo não seja para qualquer um, ainda mais quando esse segundo álbum vem para se desprender das altas dosagens de pop chicletes presentes no primeiro trabalho da banda.

JÚRI FINAL

- Nota Final: Gatinho! – Minha expressão-mor de felicidade (ao ver minha gata gorda e malina)
- Capa: Vocês sabem que eu sou candidata a vaga de solteirona que mora com 30 gatos não é mesmo? Então... gatinho! É quase um amor.
*Fangirlmomêtro: Febre de 37, 9 – começando a botar as asinhas de fora.

BANCO DE DADOS

*Título: Invisible Things
*Artista: Loveholic
*Gravadora: Fluxus Music
*Ano: 2004
*Estilo: (K.) modern rock, alt. rock, indie rock
*Álbum de estúdio
*Tracklist:
  1. Magic
  2. Sky
  3. Want You Here
  4. Blue 923
  5. Bless You
  6. Kiss Me, Hold Me
  7. 동화처럼
  8. Sunglass
  9. 너는
  10. Sylvia
  11. Hyri-rumaya
  12. Crazy
  13. My Dear…

Imagens: Hotsan blog; sq119 blog;

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