O amigo que emprestou Nova York: A Vida na Grande Cidade indicou, e também me emprestou, claro, O Homem Ideal, sabendo que eu ia gostar. Primeiro porque é em quadrinhos e segundo porque é uma história que fala de homossexuais. Não pura e simplesmente de homossexuais, assim só por falar, mas trata de convivência entre homossexuais e heterossexuais, de amizade e, principalmente, de respeito entre eles. E esse amigo acertou em cheio! Curti a temática e a história. E ri muito. O autor alemão, Ralf König, é muito exaltado por trabalhar homossexualidade em suas obras.
O Homem Ideal não é uma história longa. Dividido em quatro capítulos e mais um epílogo, o livro traz a história de um homem bonito e muito atraente que durante uma fossa por ter levado um “pé na bunda” da namorada foi conhecer um pouco do universo gay e causou.
Causou desejo, palpitações e muito alvoroço entre "as bibas".
Causou ciúme e despeito entre "as bee".
Causou espanto entre seus amigos heterossexuais.
Causou ciúme em sua ex-namorada-futura-esposa.
Causou o autoconhecimento dele mesmo.
Causou a quebra do coração "da bicha".
Causou sonhos "no viado".
Na primeira parte do primeiro capítulo tem-se a impressão de que o que estamos lendo não faz parte da história, mas logo se descobre que o autor faz uma introdução a partir dos personagens que orbitam Axel, o personagem principal.
Acompanha-se então as desventuras da amizade de Axel, o heterossexual, com Norbert, o homossexual que não dava nada por ele (pelo Axel), mas no fim ficou encantado. E mais que isso, nervoso com a situação de querer “dar uns pegas”, mas ter que respeitar o cara que o via como um amigo confiável. Situação que se complica quando a namorada que havia terminado o relacionamento, volta querendo reatar.
A história vale a pena ser conferida, independentemente de gênero ou condição sexual.
O livro me fez pensar no mito do “homem ideal”, e um pouco mais além, sobre o mito da “mulher ideal”. Será que existe mesmo um “homem ideal” ou uma “mulher ideal”? Essa é a pergunta que persegue muitas pessoas, e que me parece ser sem fundamento. Primeiro porque a palavra “ideal” pra mim, e pro Dicionário Aurélio também, significa um modelo, uma ideia.
“Ideal. [Do lat. Ideale.] Adj. 2g. 1. Que existe somente na ideia; imaginário, fantástico [...]. 2. Que é a síntese de tudo a que aspiramos, de toda a perfeição que concebemos ou se pode conceber [...]. S. m. 3. Aquilo que é objeto de nossa mais alta aspiração intelectual, estética, espiritual, afetiva, ou de ordem prática [...]. 4. O modelo sonhado ou idealizado pela fantasia de um artista, de um poeta [...].” (AURÉLIO, 1986, p. 912).Segundo porque esse “homem ideal” e essa “mulher ideal” foram criados em algum momento, dentro de um contexto, com uma determinada finalidade, logo deveríamos perguntar quem criou esses ideais e se eles ainda cabem nos dias atuais. E mais, além de perguntar se esses ideais cabem na atualidade, a questão é se eles são válidos para todos indefinidamente da mesma forma.
Esse texto provavelmente vai ficar parecendo em aberto, mas convenhamos, a questão é complexa e acredito que vivemos em um momento em que colocar um assunto em debate amplo é o importante. Então, por favor, não estranhe se eu só deixar perguntas aqui. Não tenho respostas prontas, nem me sinto segura o suficiente para emitir uma opinião formada definitiva.
O que sei é que o ideal feminino que cunhou a “mulher ideal” começou a ser construído a partir do momento em que a sociedade passou a ter como parâmetro o gênero masculino. E esse modelo ao qual as mulheres deveriam se enquadrar era uma forma de tolhe-las e, principalmente, sufocar a sexualidade feminina.
Ideal bem machista, não?
Já no que diz respeito ao “homem ideal” tenho pensado ultimamente que seja um modelo mais válido para se considerar e utilizar como parâmetro, já que se procura por um homem que ame verdadeiramente, que seja carinhoso, compreensivo e amigo, que seja confiável e leal, que respeite as mulheres e as diferenças, que não seja preconceituoso, nem homofóbico, muito menos machista, né. Que seja bem-humorado, responsável, que seja parceiro e fiel, daqueles que a gente pode contar sempre. Ah, e que nos satisfaça na cama, claro e óbvio!
O modelo Axel de homem ideal |
Não sei se divaguei demais, não sei se me fiz entender, não sei se você concorda ou não, mas espero ter pelo menos proposto uma discussão afinal, uma tese contraposta a uma antítese (anti – tese) fomenta o debate e proporciona a construção de uma síntese que pode se tornar uma nova tese e reiniciar o ciclo. E, na minha opinião, O Homem Ideal é uma excelente forma de colocar todos esses temas e essas ideias pra arejar.
O Homem Ideal, lançado em 1997 pela Via Lettera é de autoria de Ralf König e com tradução do Estúdio Arcádia.
O Homem Ideal, lançado em 1997 pela Via Lettera é de autoria de Ralf König e com tradução do Estúdio Arcádia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
COMENTE E/OU RECLAME