dezembro 19, 2013

O Homem Ideal - Ralf König

O amigo que emprestou Nova York: A Vida na Grande Cidade indicou, e também me emprestou, claro, O Homem Ideal, sabendo que eu ia gostar. Primeiro porque é em quadrinhos e segundo porque é uma história que fala de homossexuais. Não pura e simplesmente de homossexuais, assim só por falar, mas trata de convivência entre homossexuais e heterossexuais, de amizade e, principalmente, de respeito entre eles. E esse amigo acertou em cheio! Curti a temática e a história. E ri muito. O autor alemão, Ralf König, é muito exaltado por trabalhar homossexualidade em suas obras.

O Homem Ideal não é uma história longa. Dividido em quatro capítulos e mais um epílogo, o livro traz a história de um homem bonito e muito atraente que durante uma fossa por ter levado um “pé na bunda” da namorada foi conhecer um pouco do universo gay e causou.

Causou desejo, palpitações e muito alvoroço entre "as bibas".

Causou ciúme e despeito entre "as bee".

Causou espanto entre seus amigos heterossexuais.

Causou ciúme em sua ex-namorada-futura-esposa.

Causou o autoconhecimento dele mesmo.

Causou a quebra do coração "da bicha".

Causou sonhos "no viado".

Na primeira parte do primeiro capítulo tem-se a impressão de que o que estamos lendo não faz parte da história, mas logo se descobre que o autor faz uma introdução a partir dos personagens que orbitam Axel, o personagem principal. 
Acompanha-se então as desventuras da amizade de Axel, o heterossexual, com Norbert, o homossexual que não dava nada por ele (pelo Axel), mas no fim ficou encantado. E mais que isso, nervoso com a situação de querer “dar uns pegas”, mas ter que respeitar o cara que o via como um amigo confiável. Situação que se complica quando a namorada que havia terminado o relacionamento, volta querendo reatar. 

A história vale a pena ser conferida, independentemente de gênero ou condição sexual.

O livro me fez pensar no mito do “homem ideal”, e um pouco mais além, sobre o mito da “mulher ideal”. Será que existe mesmo um “homem ideal” ou uma “mulher ideal”? Essa é a pergunta que persegue muitas pessoas, e que me parece ser sem fundamento. Primeiro porque a palavra “ideal” pra mim, e pro Dicionário Aurélio também, significa um modelo, uma ideia.
“Ideal. [Do lat. Ideale.] Adj. 2g. 1. Que existe somente na ideia; imaginário, fantástico [...]. 2. Que é a síntese de tudo a que aspiramos, de toda a perfeição que concebemos ou se pode conceber [...]. S. m. 3. Aquilo que é objeto de nossa mais alta aspiração intelectual, estética, espiritual, afetiva, ou de ordem prática [...]. 4. O modelo sonhado ou idealizado pela fantasia de um artista, de um poeta [...].” (AURÉLIO, 1986, p. 912).
Segundo porque esse “homem ideal” e essa “mulher ideal” foram criados em algum momento, dentro de um contexto, com uma determinada finalidade, logo deveríamos perguntar quem criou esses ideais e se eles ainda cabem nos dias atuais. E mais, além de perguntar se esses ideais cabem na atualidade, a questão é se eles são válidos para todos indefinidamente da mesma forma.

Esse texto provavelmente vai ficar parecendo em aberto, mas convenhamos, a questão é complexa e acredito que vivemos em um momento em que colocar um assunto em debate amplo é o importante. Então, por favor, não estranhe se eu só deixar perguntas aqui. Não tenho respostas prontas, nem me sinto segura o suficiente para emitir uma opinião formada definitiva.

O que sei é que o ideal feminino que cunhou a “mulher ideal” começou a ser construído a partir do momento em que a sociedade passou a ter como parâmetro o gênero masculino. E esse modelo ao qual as mulheres deveriam se enquadrar era uma forma de tolhe-las e, principalmente, sufocar a sexualidade feminina. 

Ideal bem machista, não?

Já no que diz respeito ao “homem ideal” tenho pensado ultimamente que seja um modelo mais válido para se considerar e utilizar como parâmetro, já que se procura por um homem que ame verdadeiramente, que seja carinhoso, compreensivo e amigo, que seja confiável e leal, que respeite as mulheres e as diferenças, que não seja preconceituoso, nem homofóbico, muito menos machista, né. Que seja bem-humorado, responsável, que seja parceiro e fiel, daqueles que a gente pode contar sempre. Ah, e que nos satisfaça na cama, claro e óbvio!
O modelo Axel de homem ideal
As pessoas não são perfeitas. Não, claro que não. Mas o “homem ideal” parece a meu ver um modelo muito mais crível e realista, uma ideia pela qual os homens deveriam se guiar. E a “mulher ideal” é um modelo que precisa ser reconstruído urgentemente e com a ajuda de todos para que tenhamos como modelo a se espelhar uma mulher verdadeiramente dona de seu corpo que é respeitada e não julgada por quaisquer que sejam decisões que toma. Uma mulher que não seja violentada nem agredida, que seja dona de seu próprio nariz e escreva sua história. Uma mulher menos machista e que não se autocensure. Uma mulher mais atuante na sociedade com seus direitos assegurados e que seja protagonista na história da humanidade.

Não sei se divaguei demais, não sei se me fiz entender, não sei se você concorda ou não, mas espero ter pelo menos proposto uma discussão afinal, uma tese contraposta a uma antítese (anti – tese) fomenta o debate e proporciona a construção de uma síntese que pode se tornar uma nova tese e reiniciar o ciclo. E, na minha opinião, O Homem Ideal é uma excelente forma de colocar todos esses temas e essas ideias pra arejar. 

O Homem Ideal, lançado em 1997 pela Via Lettera é de autoria de Ralf König e com tradução do Estúdio Arcádia.

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