março 31, 2014

Game of Thrones (1ª Temporada) Review

Não faz muito tempo, tenho percebido que o gênero “fantasia” tem sido atrelado a uma substancial parte dos projetos de televisão e/ou cinema, como se fosse tudo o que se precisasse saber para encarar uma temporada ou duas horas no escurinho com cheiro de pipoca. O termo ajuda a dar os primeiros contornos, mas de modo algum consegue compactar tudo o que vemos se de fato nos dermos a trabalho.

Game of Thrones, ou melhor, Guerra dos Tronos, é facilmente resumida como a série de fantasia épica para adultos da HBO e não está errada. Também já se disse que ela é Família Soprano (The Sopranos) dentro do universo de O Senhor dos Anéis (The Lord of the Rings) – de novo, não está errado. Não muito.

É fato que GOT lida com relações de poder, sexo, violência e claro, a tal da fantasia – não haveria de ser diferente tratando-se de HBO. Para além desses quesitos temos outros dois conceitos que podem ser aquilo que mais envolve o telespectador: a estrutura patriarcal e as linhas morais que parecem pedir para serem quebradas.

É engraçado quando mesmo em um universo tão distante de nossa realidade, ainda encontramos os mesmos lugares-comuns. Ambos universos (o nosso e o de Westeros, o nome dado a essa terra distante onde GOT se passa) vivem o temor da morte, do desconhecido e se agarram à crença em algo maior e mais poderoso do que o próprio ser humano, seja um Deus, um rosto sem nome, apenas um nome, ou uma árvore.


A terra de Westeros é formada por nobres (e outros não tão nobres) senhores feudais, guardiões de terras que lhes foram dadas pelo rei. São unidos pela questão política e pela mesma política e outras tantas coisas são separados.

Temos os nobres, terrivelmente certinhos e mal ajambrados Starks de Winterfell. Os arrogantes, boçais e loiros famintos por poder; os Lannisters de Casterly Rock. Os pretensos à loucura, ilhados e perdidos Targaryen. E os morenos instáveis e temperamentais da casa Baratheon – atualmente donos da coroa. Essas quatro casas formam o retângulo central da história e é a partir dela que mais e mais personagens são trazidos a frente.

Talvez por isso, a série muitas vezes fale e conte mais do que mostre alguma coisa acontecendo, então para aqueles que esperavam ação, tenham calma, ela começa basicamente somente depois que Lorde Eddard Stark (Sean Bean) se vê aceitando o pedido do rei (um velho amigo) e tornando-se a “mão do rei” – aquele que faz o trabalho pesado enquanto sua alteza real aproveita as vantagens. Mudando-se para a corte com mala, cuia e as filhas mulheres, Lorde Stark se vê no meio de uma rede de intrigas muito maior do que ele poderia imaginar.

Sean Bean não poderia estar mais em sintonia com seu personagem do que esteve e o mesmo pode ser dito do resto do elenco, até mesmo os rostinhos jovens de Arya (Maisie Williams) e Bran (Isaac Hempstead-Wright) Stark. Só fica um pouco difícil colocar o nome de todo mundo, pois dá muitotrabalho. O que posso fazer é criar algo como uma tabela com, hum, vejamos...
  • “os chatos e que não fazem falta”: Catelyn Stark (Michelle Fairley), Sansa Stark (Sophie Turner);
  • “os promissores, por favor, não morram”: Jon Snow (Kit Harington), Arya Stark, Daenerys Targaryen (Emilia Clarke);
  • “os amorais que são divertidos de assistir”: Tyrion Lannister (Peter Dinklage), Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau), Petyr Baelish (Aidan Gillen);
  • “os cretinos, psicopatas e babacas que teriam uma adaga no meio da testa se eu fosse capaz de atravessar a tela da TV”: Cersei Lannister (Lena Headey), Joffrey Baratheon (Jack Gleeson), Theon Greyjoy (Alfie Allen).



E esses nomes são apenas aqueles que aparecem na abertura, como elenco principal. Haja nome! Mas não se engane, não é porque há tantas pessoas na linha de frente que algumas se aproveitam para não fazer nada. Todos os atores citados tem trabalho a fazer e acabam formando uma espécie de núcleo próprio onde mais um pedaço desta terra mítica é apresentado.

Jon Snow, por exemplo, filho bastardo do correto Lord Stark – ok, nem tão correto assim – é um bom rapaz, mas só recebe desprezo da esposa de seu pai, Lady Catelyn. Possivelmente motivado pelo rótulo de “bastardo” ele decide se juntar à Night’s Watch, uma espécie de guarda real, cujo único serviço é patrulhar e proteger a monstruosa muralha que separa os 7 Reinos, da floresta e terra gélida logo atrás dela.

Infelizmente o rapaz descobre que esse trabalho que ele julgava essencial e prestigioso não é tão nobre assim quando ele se vê tendo que conviver com a escória – já que eles formam o grande contingente de homens dessa guarda.

Passando pelo Narrow Sea temos os exilados Targaryen. Viserys, o príncipe e rei por direito não vê a hora de assumir seu trono e para isso, casa à irmã, princesa Daenerys, com Khal Drogo, o grande chefe de um clã de cavaleiros selvagens.

A série segue tão bem o material do qual nasceu – a série de livros de George R. R. Martin chamada As Crônicas de Gelo e Fogo (A Song of Fire and Ice) – que mantém, ou melhor, não mantém a cabeça de seu personagem principal, Lorde Eddard Stark, que é degolado na frente de suas filhas. Com isso, as duas mocinhas são separadas e cada uma segue sua própria trajetória. A morte do Lorde também muda os rumos de sua esposa e do filho mais velho, Robb.

Aliás, a morte dele é a faísca que faltava para explodir a bomba relógio chamada ganância. E é verdadeiramente com ela que as guerras de tronos, ou a guerra pelo maldito trono realmente começa.

O EPISÓDIO 


Como disse anteriormente, a historia começa a tomar gás de fato após a morte de Lorde Stark, por isso mesmo destaco o nono episódio (Baelor) como ponto alto da série. O primeiro motivo é a coragem de eliminar um dos personagens mais centrados de todo a Westeros e, por conseguinte um dos nomes mais conhecidos do elenco.

Obviamente o episódio não é feito apenas do drama dos Starks em Porto Real, mas também aprendemos um pouco mais sobre o que há por trás do cinismo de Tyrion Lannister ou da força e coragem de Daenerys.

SOUNDTRACK

Sendo uma produção que reproduz uma terra medieval, GOT não se preocupa demais com a música de fundo, ou com música de qualquer espécie. As cenas são carregadas de diálogos e/ou longos olhares para o além e por isso evitam muito mais enfeites a não ser algumas peças instrumentais aqui e ali, nada muito explicito.

De fato o único momento em que ouvimos música de modo claro é durante a sequência de abertura, um longo e estilizado passeio pela extensa Westeros, através de seu mapa 3D. O tema é criação de Ramin Djawadi.

CONCLUINDO 

Com um mundo extraordinariamente bem desenhado pelas formas naturais e pela hierarquia feudal, enaltecido pelas atuações conscientes e por vezes encantadoras, e trazido à tela pela super produção que uma emissora como a HBO tem para oferecer, Game of Thrones com certeza se torna um bom exemplar do que é uma hora de televisão bem gasta.

PÔSTERES




JÚRI FINAL 

- Nota: 8,5 – ainda não perdoei mataram um dos seres humanos mais decentes dessa série.
- Ícone: Tyrion Lannister – o anão mais safado e inteligente que já se viu.
- Créditos: tão mágico que merece um post (e ganhou).

*Resumo: Alguém já disse que na guerra e no amor vale tudo. Não custa nada produzir dez episódios para mostrar todos os detalhes sórdidos dessa afirmação.


BANCO DE DADOS

*Título Original: Game of Thrones 
*Produção: David Benioff, D. B. Weiss 
*Estilo: fantasia épica, drama adulto
*Episódios: 10 
*Temporadas: 3 
*Emissora: HBO
*Ano: 2011

Imagens: Game of Thrones Wikia; HBO


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