junho 07, 2014

Livro: The Miraculous Journey of Edward Tulane Review

“The heart breaks and breaks
and lives by breaking
it is necessary to go
through dark and deeper dark
and not to turn”
Stanley KunitzThe Testing-Three 

É com esse pequeno trecho do poema de Kunitz que a autora Kate DiCamillo nos deixa alerta para a belíssima lição que ela tem para nos dar.

A história começa apresentando seu personagem principal, Edward Tulane, um pequeno coelho de porcelana.
“Ele tinha braços de porcelana e pernas de porcelana, patas de porcelana e uma cabeça de porcelana, um corpo de porcelana e um nariz de porcelana. Seus braços e pernas eram articulados e unidos por arame de forma que seus cotovelos de porcelana e seus joelhos de porcelana pudessem ser dobrados, dando-lhe bastante liberdade de movimento”*.
Ele era visto e tratado apenas como um brinquedo por todas as pessoas ao seu redor, menos sua dona, a pequena Abilene Tulane e avó da garota, Pellegrina, de quem ela ganhara Edward como presente.

Imensamente amado por Abilene, Edward passa seus dias de acordo com a rotina da garota e mesmo que na maioria das vezes ele não tenha nada para fazer além de ver o tempo passar e observar as estrelas, ele está bem satisfeito com sua existência confortável.

O coelho, no entanto, não é exatamente o que se poderia chamar de agradável. Arrogante e comodista, Edward é tão concentrado em si mesmo que não se importa em ser ignorado ou amado e aparentemente não tem ideia da diferença entre as duas coisas.

Na noite anterior a partida tanto de Abilene quanto Edward em uma viagem de navio à Londres, Pellegrina atende ao pedido da neta e lhes conta uma história sobre uma linda princesa que “brilhava tanto quanto as estrelas em uma noite sem luar”. Infelizmente a princesa não amava à ninguém e ao fugir do castelo ao ser pedida em casamento, uma bruxa a transforma em um javali e a pobre princesa-javali acaba sendo morta e comida pelas pessoas do castelo.

A história não satisfaz Edward ou Abilene, que protesta quando a história supostamente termina sem um final feliz.
“– Porque veio rápido demais. Porque ninguém está vivendo feliz para sempre, é por isso.
– Ah, e então – Pellegrina aquiesceu. Ela ficou quieta por um momento.
– Mas me responda o seguinte: como uma história termina feliz se não existe amor?”*.
Sem apaziguar a neta, Pellegrina encerra a história e deixa o quarto, não sem antes dizer a Edward que está desapontada com ele. Por qual motivo, Edward parece não ter a menor ideia. E ele provavelmente continuaria não tendo nenhuma, se sua vida não sofresse drástica mudança no capítulo seguinte.

Durante a viagem de navio, Edward, por uma infeliz brincadeira, acaba sendo arremessado para fora do navio, em meio às águas do oceano, e é a partir daqui que tanto sua milagrosa jornada quanto nossa lição sobre o amor começa.

Por um longo tempo, longo o suficiente para que percamos o número exato do tempo, Edward vai sendo encontrado por diversas pessoas em diversos situações.

Primeiro ele é resgatado do mar por um pescador e vai parar em sua casa junto a sua esposa. Depois, ele é encontrado por um andarilho e seu cachorro no meio de um lixão. Algum tempo depois ele é encontrado por uma senhora que o trata como um espantalho. O garotinho que trabalha para ela, o resgata e leva para sua irmã, uma menininha doente.

O coelho sobrevive à lugares e perigos praticamente intacto, até que um dia, ele é atirado com força em uma confusão em uma lanchonete e acaba em pedaços. Com a ajuda do pequeno garoto, ele vai parar na loja de um homem que concerta e produz bonecas de porcelana. É nessa loja, encarapitado em uma das prateleiras que chegamos ao clímax da história e a redenção de Edward.

Durante sua longa jornada Edward vai aos poucos descobrindo sentimentos que nunca antes fizeram parte dele e sem querer vai deixando que as pessoas que atravessam seu caminho entrem em sua vida e em seu coração.
“- Eu já fui amado – disse Edward. – Eu já fui amado por uma garota chamada Abilene. Eu já fui amado por um pescador e sua esposa e um vagabundo e seu cachorro. Eu já fui amado por um garoto que tocava gaita e por uma garota que morreu. Não fale comigo sobre amor – ele disse – Eu já conheci Amor”*.
Mas depois de tantas perdas, Edward desiste de ter esperanças, e desolado resolve fechar seu coração. Enquanto todas as outras bonecas da loja desejam ser compradas e amadas, Edward simplesmente não consegue se incomodar com nada disso. Ou melhor, ele desiste. Desiste de amar e ser amado.

E porque seria isso? Bem, nenhum de nós realmente precisa ler o livro para saber.
“- Eu não quero saber de ser amado – Edward disse à ela – Eu não quero saber de amar. É muito doloroso”*.
Esse é um dilema que todos nós já enfrentamos algum momento. Amar pode ser doloroso. Amar pode ser cruel. Amar pode ser uma diversidade de outros verbos e palavras com conotações infelizes e ainda assim, nós amamos.

O encontro de Edward com uma boneca antiga e remendada nos dá uma visão do porque amamos e porque é bom fazê-lo. Aliás, a conversa entre os dois brinquedos é absolutamente linda, mas o livro inteiro pode ser resumido simplesmente nesta fala da boneca remendada:
“- Você me desaponta, ela disse. – Você me desaponta imensamente. Se você não tem intenção de amar ou ser amado, então a jornada toda é inútil. Você pode muito bem pular dessa prateleira nesse momento e deixar-se quebrar em um milhão de pedaços. Dê um fim nisso. Dê um fim nisso agora”*.
Ou seja, amamos porque nossa existência é feita disso mesmo, do amor que damos e recebemos. O destino deste coelho é ser amado, assim como qualquer pessoa, mas isso só pode ser possível se ele permitir ser amado, se ele estiver pronto para isso, se ele abrir seu coração.

A mensagem prolongada sobre abrir seu coração para receber esse sentimento extraordinário move a jornada de Edward e comove nossos corações de tal forma que chega a ser até um crime que esse livro seja classificado como literatura para crianças. Essa jornada é nossa. Essa história universal.

E realmente, esse livro foi feito para ser amado. As ricas ilustrações que o compõem, feitas por Bagram Ibatoulline, são primorosas e exatamente como eu imaginara tudo em minha cabeça. Além disso, a maneira como a história é contada, é senão, extraordinária em si mesma.

As frases fluem de uma maneira diferente, soam diferentes. É curioso como ao ler, temos vontade de fazê-lo em voz alta de tão gostosa que é a leitura e a narração, mesmo sendo bem objetiva, não deixa de ser mágica, pelo simples fato de conseguir dizer tanto com tão pouco. Eu sinceramente nunca havia lido nenhum livro da autora, então, não sabia muito bem pelo que esperar embora já soubesse mais ou menos do que a história tratava, mas jamais teria esperado tanta profundidade em tão poucas páginas.

Emocionante e poderosa, a milagrosa jornada de Edward não é apenas uma excelente história, é também um lembrete sincero sobre como encontrar a si mesmo, ou então o caminho de volta de volta para casa, pois já se disse um dia “o lar é onde seu coração está”.

*os trechos do livro que seguem são traduções feitas por mim do original em inglês e podem estar completamente diferentes da versão traduzida em português.

CAPAS


Primeiro a versão inglesa e depois a capa mais conhecida e utilizada mundialmente.

JÚRI FINAL 

- Nota: E de (tão) espetacular. Não haveria como receber menos.
- Indicações: Todas. Eu provavelmente vou obrigar todo mundo que conheço a ler o livro (e eles muito me agradecerão mais tarde).

*Trecho do S2: “- Abra seu coração, ela disse gentilmente. – Alguém virá. Alguém virá por você. Mas primeiro você deve abrir seu coração”.

BANCO DE DADOS

*Título Original: The Miraculous Journey of Edward Tulane
*Autor: Kate DiCamillo
*Editora: Candlewick Press
*Arte de Capa /Ilustrações: Bagram Ibatoulline
*Adaptações: cinematográfica**
*Estilo: novela, ficção, literatura infantil
*Páginas: 228
*Edição nacional: lançada

**Os direitos foram comprados e o filme está ainda em estágio de pré-produção. 

Imagens: Amazon UK


POSTS RELACIONADOS

Nenhum comentário:

Postar um comentário

COMENTE E/OU RECLAME