fevereiro 22, 2018

Abertura: Last Friends

Emblemático até mesmo fora de sua terra natal, o j.drama Last Friends (ラスト•フレンズ) é certo de estar na lista de qualquer espectador assíduo de entretenimento asiático, nem que seja na lista de “vou assistir”. A chance de aparecer é ainda maior se a lista tratar de créditos de abertura ou encerramento, pois este dorama esbanja competência até na hora de botar umas letrinhas na tela. 

Bem... botar umas letrinhas na tela é um pouco de exagero de minha parte já que até eu posso fazer uma coisinha bonitinha no Movie Maker. O que a produção desse drama fez foi dificultar a vida de suas sucessoras (incluir aqui aquela choradeira de Innocent Love).

Devidamente sonorizado pela canção Prisoner of Love de Utada Hikaru as imagens ganham dimensão tanto com a mixagem impactante quanto com o desenrolar do enredo. Mas como nenhum de vocês é obrigado a lembrar dos 12 episódios, vamos fazer um resumão. Para aqueles que não curtem um spoiler acho bom pararem de ler. 

TEMAS

Em meio aos tecidos brancos esvoaçantes, somos apresentados tanto aos personagens principais quanto aos seus problemas e os assuntos que envolvem o drama como um todo. 
  • Michiru | Love

Enquanto alguns chamam de “amor”, a grande maioria chama de violência doméstica. Vivenciando o desprezo diário de sua mãe, é natural que uma personagem como Michiru tenha se deixado envolver por qualquer pessoa que demonstrasse o mínimo de afeto por ela. Mas não se engane; o que vemos é um relacionamento doentio entre uma mulher sedenta de amor e um homem controlador e agressivo.
  • Ruka | Liberation 

Experimente imaginar como deve ser não sentir-se confortável na própria pele. Inadequado. Errado. Não porque você se sente de outra forma, mas porque a natureza o trouxe ao mundo nessa forma.

Não sei se gosto do som da palavra “transtorno”, mas posso apenas imaginar o turbilhão interno de uma pessoa que tenta se afirmar, não necessariamente para o mundo, mas para si mesma – o que é de longe o mais importante.
  • Takeru | Agony 

Muito desta vida não pode exatamente ser explicado em palavras, até mesmo quando tentamos. Não sei se aqui é exatamente esse caso, ou se alguma coisa ficou perdida na tradução, mas fica claro para nós que o turbilhão interno de Takeru vem de alguma experiência passada que o personagem preferiria nunca ter de lembrar.

De uma forma ou de outra, temos a leve impressão de que houve alguma espécie de abuso – muito provavelmente sexual.
  • Eri | Solitude

“Estar só” é um estado deveras distinto de “sentir-se só”. A personagem parece vagar entre as duas definições durante todo o drama, e embora eu considere que boa parte disso se deve a sua insistência em tentar preencher esse vazio com a presença de um par amoroso, devemos lembrar que o essencial é completarmos a nós mesmos primeiramente.
  • Sousuke | Contradiction

Sim, não há nada mais confuso do que Sousuke. “Múltiplas personalidades” é muito pouco para um cara que muda da água para o vinho. Oras doce, oras agressivo, se não for medo, será provavelmente MUITA raiva o que vocês sentirão por ele.

Violentador, agressor e canalha são adjetivos fracos para o rapaz que em minha opinião, teve o que mereceu. 

SEQUÊNCIA

Visualmente centrada em branco, preto e vermelho, a abertura se concentra em cortes interessantes entre imagens representativas, cenas silenciosas e quadros cheios de expressão. Os dilemas dos personagens são mostrados de forma resumida e logo após são seguidos de ou um elemento simbólico ou uma palavra de efeito.

Temos o amor e a amizade do abraço entre Michiru e Ruka. A dificuldade de se abrir com o outro nas mãos de Ruka e Takeru. A tentativa de estar próxima na hesitação de Eri. O distanciamento de Michiru e Sousuke na mão que se afasta. E o circulo de ligações se fecha.




Em minha interpretação, também temos o espelho quebrado para tudo aquilo construído sob uma falsa imagem, destruído pela força dos acontecimentos, assim como a porcelana despedaçada, frágil. O transbordar do café como o transbordar daquilo de terrível e negro que guardamos em nós. E as chaves que nos levam a destrancar os segredos, os medos, os sentimentos e os corações envolvidos.



Além disso os atores cruzam uns aos outros no cenário assim como suas historias no drama, e são seguidos e entrelaçados por uma fita vermelha que os uni e ao mesmo tempo os condena. 


REFERÊNCIAS

Impossível não reparar nessa fita vermelha que sai serpenteando cenário afora e vai parar enrolado nos punhos dos personagens, certo? Para aqueles que acharam bonito, mas não tem ideia do significado, explico agora.


Segundo uma antiga lenda chinesa (de diferentes versões), o deus ancião da Lua, Yue Xia Lao Ren (月下老人), ou simplesmente Yue Lao, tinha em seu poder um livro onde estavam registrados todos os casamentos, de todas as pessoas, em todo o futuro, e assim, durante a cerimônia ele aparecia para colocar um fio vermelho em torno do tornozelo dos noivos, unindo os dois num mesmo destino.

Pela crença espalhada Ásia afora, aqueles que estiverem conectados pelo fio estão destinados um ao outro, independente de qualquer coisa, e esse fio que os une jamais se romperá.

Então de alguma forma, a abertura nos diz que esses personagens estão ligados uns aos outros, não por mera casualidade, mas por uma ligação do destino, e se vocês repararem bem verão que alguns deles têm ambos os punhos enrolados no fio, dando a entender que há mais de uma “alma gêmea” para aquela pessoa. Eu bem acho que isso explica muita coisa.

Fonte: Hoje Macau/h | Imagens: YouTube

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