junho 05, 2013

Mangá: Cat Street Review

A grande cortina vermelha se abre, as luzes dos holofotes estão centrados em uma linda garotinha que surge pronta para ser... quem exatamente? A estrela, Sunny? Aoyama Keito, garota prodígio? Ela mesma? Afinal de contas, quem é essa garota solitária de olhos melancólicos? Essas e outras perguntas estarão sempre no ar pesado e sentimental deste - por muitas vezes - comovente mangá sobre amadurecer e seguir o próprio caminho.


Aoyama Keito, 16 anos, silenciosa, solitária. Se não fosse tão fotogênica, talvez ninguém soubesse que a jovem fora uma famosa atriz mirim, que têm passado os últimos anos sozinha em seu quarto se recusando a conviver com as pessoas. Algumas vezes, sentindo-se sufocada, ela vaga pela cidade, sozinha.

Em um desses passeios Keito é convidada a conhecer a El Liston, um instituto de educação, também chamado de escola livre, onde tantos outros jovens, que não conseguem encontrar para si um lugar dentro dos padrões de uma escola regular, podem frequentar. Um lar fora de casa, pode-se dizer.

A jovem reluta frequentar o espaço inicialmente achando que no fundo ela é bem diferente das crianças que encontra por lá. No entanto, acaba retornando ao lugar sem perceber.

No instituto ela acaba formando um quarteto de amigos em Saeki Rei, Noda Momiji e Mine Koichi. Todos donos de personalidades fortes e diferenciadas que os fizeram diferentes demais dos outro jovens de suas idades e acabaram sendo isolados e/ou humilhados por eles e por isso encontraram na El Liston um abrigo.

Nessas linhas descortinei o inicio desta história tocante e delicada. Que não somente nos conta quem são esses jovens, mas porque eles são tão singulares. Cada um criando para si um lugar no mundo, mesmo que para isso eles precisem primeiro se perder no caminho.

A história começa com o encontro desses jovens quando Keito ainda tem 16 anos e os acompanha por pelo menos três anos, quando ela atinge os 19. E mostra o processo de amadurecimento pelo qual cada personagem tem de passar.

O entrosamento das personagens é curioso exatamente pelas diferentes personalidades, mas acaba nos mostrando no fim que nossos amigos podem não ser as pessoas mais parecidas conosco, ainda que partilhemos muitas coisas, como gostos, experiências, valores, etc. O que nos torna amigos é de fato a vontade que temos de apoiarmos uns aos outros seja qual for o momento. E é nisto que reside o melhor de Cat Street. Esse panorama delicado do que significa a amizade.


Acho particularmente linda a comparação traçada entre esses jovens perdidos no mundo e os gatos de rua abandonados – todos lutando por sua sobrevivência dia a dia.

Outro ponto forte deste mangá é o excelente traço de Kamio Yoko. Muitas personagens são desenhadas desde criança até a fase adulta (caso de Keito e Sonoda Nako, por exemplo) e outros que tem apenas duas fases. Em todos os casos ela consegue manter as características de cada um bem consistentes do inicio ao fim – o que considero excepcional, pois não são todos os mangakás que conseguem tornar todos que surgem, singulares a ponto de no volume final, quando ocorre uma espécie de reunião de todos eles, ser capaz de reconhecê-los um a um.


Mas nenhum personagem tem um traço tão encantador quanto Koichi, que não somente consegue ficar melhor com a passagem do tempo, mas também é meu personagem favorito em muitos sentidos. Seu caráter e personalidade são bem próximos do meu e talvez por isso sinta afinidade, mas é pelo forte senso de solidão auto imposta e aceita que me sinto intrigada por ele.

O jovem se encaixa bem no meu tipo fechado-sofredor-que-de-tão-inteligente-é-sexy. HÁ. Sim, eu consigo me encantar por um desenho, me julgue se quiser. Mas antes, diga se esses olhos singelos não são lindos:


O que não me impede de dizer que o mangá falha bastante.

Os problemas acabam ficando no enredo. O que sobrou nos traços, faltou para dosar a tensão ao longo da série e não somente em partes especificas, tornando o balanço da história errático e por vezes confuso, como nas partes onde Keito se descobre apaixonada.

A forma como ela se descobre gostando de Harasawa Taiyou me parece rápida demais, embora a forma como termina compense pois nos faz concluir que o que ela teve foi apenas uma forte paixonite adolescente, bem comum. Já seus relacionamentos com Rei e Koichi respectivamente são outra coisa.

Em relação à Rei sempre temos a sensação de que “pode ser que ele goste dela”, mas só temos a confirmação quando ele se declara. Levando em consideração a forma como o enredo vinha se desenvolvendo, parecia mais como se ela estivesse interessada em Koichi o que me faz condená-la no momento em que resolve se envolver com Rei e acaba por magoá-lo.

É fato que com a continuação da história descobrimos que a jovem ainda não havia percebido seus sentimentos por Koichi e fora necessário que amigos interviessem para que ela percebesse isto – e nessa parte temos um bom exemplo do que estou falando com falta de balanço. Koichi por outro lado compreendia muito bem o que sentia. Com a passagem do tempo e o amadurecimento de ambos, esses mesmos sentimentos passam a ter um peso diferente. A imagem abaixo, por exemplo, focaliza bem essa sensação. Adoro os significados presentes em cada detalhe.


Próximo do final é criado uma situação exagerada e um tanto ridícula. Entendo que a autora quisesse enfatizar as feridas emocionais desses jovens traumatizados, mas a forma como escolheu fazê-lo criou mais uma barreira na fluidez na história e soou mais como um meio de confirmar o afeto de Koichi por Keito do que mostrar que as pessoas que vão ao extremo podem apenas estar precisando de ajuda.

Concordo com as opiniões sobre o mangá não ser criativo, ao contrário, reutiliza muitos clichês e paga tributo ao estilo shoujo com os traços leves e as emoções/reações exacerbadas, mas Cat Street é feito de muito mais do que isso, combinando a melancolia e o crescimento dos personagens em uma mistura encantadora.

BÔNUS

Cat Street ganhou duas histórias extras. Uma inserida no volume 8, trazendo Noda Momiji como principal e outra em um volume extra (9), trazendo uma nova personagem, contada em um tempo posterior ao fim da série regular.

Ambas são divertidas e nos dão um pouco mais do universo desse mangá para os que não queriam dizer adeus. Mas não considero nem um pouco excepcional.


CAPAS

Como o mangá ainda não foi lançado no Brasil, estou mostrando as versões japonesas, uma de primeira edição (de acordo com o lançamento do projeto que começou em 2005 e terminou em 2008) e outra, uma reedição com volumes reduzidos.

E falando nisso o Mangás Space disponibiliza os scans traduzidos em português – e aqui fica meu muito obrigado a quem trabalhou nesse projeto.

- 1ª versão:




- 2ª versão:



JÚRI FINAL

- Enredo: balança, balança, mas não cai.
- Arte: delicada, leve e com um toque de melancolia.
*Média: 8/8 – 8 volumes por 8 cenas marcantes. Lembro tão bem que poderia desenhá-las. 

BANCO DE DADOS

*Título Original: キャットストリート
*Nomes Alternativos: Cat Street
*Roteiro: Kamio Yoko
*Arte: Kamio Yoko
*Editora: Shueisha
*Estilo: shoujou, comédia, romance
*Adaptação: televisiva
*Volumes: 8

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